Sampa sua linda! Viver em você me deixa exatamente como nessa foto: descabelada, mas feliz.

Atenta aos seus riscos, é como eu vivo. Você é uma amante cruel e exigente, torna a todos desejosos de sua atenção, velocidade e multiplicidade. Exerce seu fascínio, inspirando respeito e medo. Seu mito causa um tal de “Deus me livre, mas quem me dera”, em quem se aventura por aqui.

Você logo ensina que não dá para marcar bobeira, oportunidades passam velozmente, e quem for sagaz consegue aproveitá-las, os demais são atropelados pelos seus barulhos incessantes.

Por falar em barulho, os motoboys são o exemplo do que é um paulistano (existem exceções, eu sei, vislumbre só a ideia). Eles não perdem tempo, correm, fazem manobras mirabolantes para cumprir sua agenda. Encontram um novo caminho, passam por espaços estreitos, sempre fazendo por onde. Bi, bi, bi, biiiii, buzinam loucamente, é como abrem seu caminho: me deixem passar, tic-tac, estou aqui, respeite meu espaço. Admiro e até tenho um certo receio da sua união, entretanto, não ajudam só o colega, já ouvi outros casos empáticos. E por fim, são discriminados, pelo mesmo motivo que fazem você andar.

Pensando em discriminação, exclusão, você não saiu ilesa. Acolhe a todos que chegam? Sim, todavia, não é muita justa ou igualitária, certo? E para piorar, ainda há muita cegueira em seus caminhos. Pessoas em situação de rua só aumentam nos últimos anos, é desolador. Da mesma forma que se espalhou pela cidade, a cegueira e a desconfiança também. É como um espetáculo não tão distante, um “Les Misérables” a céu aberto. Nessa ordem: lamentamos; culpamos a economia, o governo, as drogas, etc; damos esmola; e nos perdoamos, esquecendo seus rostos logo após.

Eu lembro de ir num concerto na Av. Paulista no seu aniversário de 440 anos. Hoje são 469 anos, me conta está precisando de uma recauchutagem? Como se sente? Espero que bem, pois seus filhos e agregados se orgulham de você. Eu realmente me orgulho, como não, de uma senhora tão múltipla, diversa e peculiar?! Você é gigantesca, quarta maior cidade do mundo, doze milhões de pessoas em 1.521,110 km². É a alegria dos turistas, Beco do Batman, Vila Mada, Av. Paulista, Ibirapuera, uau, todas as tribos convivendo em harmonia. Harmoniosamente “pero no mucho”, indo um pouco longe do burburinho, ainda existe muita pobreza, preconceito, discriminação e injustiça. Tentam-se há anos te maquiar, como os Cingapuras em locais estratégicos. É mais fácil isso do que resolver.

Caetano em sua declaração disse: “narciso acha feio o que não é espelho”, e até nisso você se superou. É tão diversa e os espelhos são tão diferentes que até parece um daqueles brinquedos de parque de diversões.

Olhar o diferente é um ótimo exercício de autoconhecimento, ele pode nos mostrar várias facetas e possibilidades que não enxergávamos. Recomendo.

Sua fama se mistura a suas lendas, transformando-te em uma mãe generosa, que forma filhos mimados. Você é viva e pulsa, e em sua grandiosidade, temos de tudo. Lazer, esportes, cultura, culinária. De ópera ao carnaval, de pastel aos menus degustação. Comer? Aí você é mãezona, e capricha, tanto na variedade, quanto qualidade. É muito fácil se acostumar com sua faceta eclética, nisso, eu sempre fui mimada por ti. Poxa, mas faltou a praia né?! Não tinha como ser perfeita?

Confundo-me em seus caminhos, porém sempre acabo me achando nos cantos mais inusitados. Tanto vivi, aprendi e sofri em seus braços, e justamente por isso, que muito do que sou, devo a ti. Cresci e me encontrei em você, reconheci meus amigos, pari meus filhos. São tantas as histórias, cada canto, dos meus prediletos, tem algo ou alguém a ser lembrado: Av. Paulista, Liberdade, Theatro Municipal, Sala São Paulo, Pinacoteca, andar pelas ruas do Centro, Vila Mada, Parque da Aclimação, Ibirapuera… a lista é longa.

Ohh, este amor é antigo. Mesmo eu sendo a que aponta e julga seus defeitos, sou também àquela que não consegue ficar longe. Sou a filha pródiga que volta sempre. E suas verdades sutis e belezas concretas sempre me receberam, com o olhar de quem reconhece um dos seus.

Leave a Comment

Your email address will not be published. Required fields are marked *