Carnaval, festa da Carne. Pessoas rindo, corpos nus, bebida aos borbotões, beijos sem significado. Pessoas tentando impregnar a alegria infantil que lhes faltam.

Já são muitos Carnavais por aqui, inclusive os fora de época. Nunca fui uma foliã de alma, e olho a todos, com a indiferença de uma mera espectadora. Brinco por eles, como a criança que revive suas matines. Memórias de brincadeiras irreais, fugas da realidade.

Porém, Um, só Um, é uma porta que se escancara. E particularmente nesse ano, as circunstâncias me tiraram as forças para fechá-la, é impossível não ressentir, difícil não querer, e ambiguamente não difamar. Os anos se passam e eu ainda escuto seus sinais. A curiosidade assombra, será que sou uma memória ou um mero borrão de uma fantasia de um carnaval antigo?

Assim como o passado, as fantasias que colocamos na pele é uma alegria efêmera. As minhas escolhidas para esse ano foram autobiográficas, Holly Golightly e a outra um tanto indefinida (até nisso se assemelha comigo), entretanto fui chamada de noiva, princesa e bailarina. Ambas, jovens que fingem ser maduras. A primeira, a dona de si, o cúmulo da autossuficiência. E a outra, a sonhadora, a brincante, a cheia de sonhos e esperanças. Ambas são eu, vestes que uso conforme a peça se apresenta. Ambas que quiça nas cinzas, deixem seu abismo das más escolhas.

Quem sou eu? Diga logo

Que eu quero me arder no seu fogo
Deixa o dia raiar, que hoje eu sou
Da maneira que você me quer

Chico Buarque

Não vou te ver dessa vez, Chico, era só o adiamento de um fim certeiro. Quem sabe um dia eu te veja novamente, correndo atrasado, sorriso no rosto e esses olhos de se perderem de tão azuis.

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