Quero a vida com mais verso que prosa. Porém, não quero a poesia estancada como na composição de um soneto em seus versos rígidos. Desejo-a livre e multifacetada, como nos versos dos muitos eus de Fernando Pessoa, sem perder a forma, beleza e a eufonia.

Ora sensível, como Alberto Caieiro:

“Procuro despir-me do que aprendi,
Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras,
Desembrulhar-me e ser eu, não Alberto Caeiro,
Mas um animal humano que a Natureza produziu.”

Com menos frequência, caustica, como Álvaro de Campos:

“Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?”

Nos dias cinzas, melancólica, como Bernardo Soares:

“Minha alma é uma orquestra oculta;
não sei que instrumentos tange e range,
cordas e harpas, timbales e tambores, dentro de mim.
só me reconheço como sinfonia.”

De preferência mais estoica, como Ricardo Reis:

“Tenho mais almas que uma.
Há mais eus do que eu mesmo.
Existo todavia
Indiferente a todos.
Faço-os calar: eu falo.
Os impulsos cruzados
Do que sinto ou não sinto
Disputam em quem sou.
Ignoro-os. Nada ditam
A quem me sei: eu ‘screvo.”

Mas sigo sendo eu, como em seu Presságio:

“Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar…”

*Desconheço o artista da imagem, se alguém souber me avise por gentileza!

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