Um dia me disseram que eu não era o suficiente e acreditei. Não caí, despenquei. Cheguei ao fundo e por um tempo achei que não conseguiria sair. Não ouvia minha própria voz, ela não saia quando gritava por ajuda. Demorei pra enxergar uma luzinha lá do fundo onde estava, não desisti de procurar saída, alguns sussurros infantis me chamavam.
Sozinha seria impossível escalar, era um buraco apertado com paredes de pensamentos dolorosos e quanto mais tentava me agarrar a eles, mais fundo caía.
Não via a saída, mas a vida nunca deixou de me enviar Fé pra continuar. Também me mandou Palavras para transformar os pensamentos, que tanto me machucavam, em entendimento do que fui e de quem poderia me transformar. Recebi Carinho que foram fortalecendo o meu eu tão fragilizado. Apoio não me faltou e com eles fiz uma escada. Com a Coragem galguei degrau por degrau, às vezes debilmente, com esforço, medo, tropeçando e caindo de novo, outras pulando de dois em dois como uma criança brincando.
Com o Tempo a minha voz voltou, um pouco tímida a princípio, baixa e indecisa. Em alguns momentos gritei, espalhando a raiva por quem estivesse perto da minha dor. E aprendi a cantar, nisso ela foi se fortalecendo. Até que um dia tive uma grata surpresa de me ouvir falando um NÃO, fácil, firme e resoluto, pero sin perder la ternura jamás.
Na subida encontrei peças de um puzzle que se mostraram fundamentais, umas se encaixaram, outras foram temporárias pra eu me re-conhecer, e outras desencaixaram pra não mais voltar. Não entendi como ganhos ou perdas, mas Presentes para meu crescimento. O outro é um espelho do que precisamos enxergar, e este pode ser processo doloroso ou resiliente, nós que escolhemos como aprender a lição. Para essas ocasiões tenho até um mantra: o que não é benção, é livramento :).
Na dança de peças, pedaços, partes, degraus, vozes e sentimentos, eu fui crescendo e subindo, crescendo e subindo, até não precisar mais de escadas, pontes ou cordas pra sair. Cresci tanto que chegou o momento que precisei de só um passo pra sair do buraco em que Eu mesma me coloquei.
Nesse buraco não caio mais, mas um dia me falaram que eu era mais que o suficiente e eu acreditei. Contudo, essa é outra história e outro buraco.