Vejo o gotejar, a respiração, o ressonar, o peito sobe e desce, tudo compassado numa dança aliviada. O drama das agulhas e do torniquete mostra que só tem tamanho, é ainda a minha criança, mas será somente por pouco tempo, eu sei.

O meu bebezuco cresceu, ainda pede colo e abraço, contudo, cada vez menos. Os seus problemas cresceram com o seu tamanho e eu já não conseguirei resolvê-los com os meus super poderes, aqueles que todas as mães têm, que normalmente eram requisitados depois de um “Manhêeeeeeeeeeee”. Agora ele guarda alguns pra ele mesmo, talvez numa tentativa de não me irritar ou zangar, porém, já o vi tentando não me preocupar. Um filho não deveria ter esse papel, me poupar, será que erro ou ele que é sensível demais, ou ambos os casos?

A maternidade é a tarefa mais difícil que já tive e a mais prazerosa. Tão ambíguos e intensos são os sentimentos advindos dela. Eu não fazia ideia. Ver um filho sofrer não é fácil, e pior, ver sofrendo e não poder ajudar é para o super-homem. Eles são a nossa kriptonita.

Ele cresceu, moleque divertido, tem uma língua irônica (e eu sei quem ele puxou), tagarela, cheio de estórias mirabolantes, um sonhador, prestativo, cuidadoso e ético (óbvio que isso não inclui as disputas com o irmão), tem um medo preocupante, é tão doce, gentil e ingênuo que esse medo passa pra mim. Medo de ser engolido pelo mundo e perder esse brilho e entusiasmo que sempre demostra pela vida.

O gotejar continua, uma a uma, e ele dorme, pessoas entram e saem da sala e eu ainda em sua frente, escrevendo. Meu olho se enche, ele quer crescer, eu também quero, quero ser desnecessária, mas agora tenho medo disso, de quando um soro não seja a solução de suas dores, e por mim, tenho medo de quando meu colo também não o for.

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