De repente, não mais que de repente, me deu vontade de escrever, criar belas rimas para o amor. Não ousarei me comparar aos grandes, pois não tenho palavras filosóficas como as de Gibran.
O amor só dá de si mesmo,
e só recebe de si mesmo.
O amor não possui
nem quer ser possuído.
Porque o amor basta ao amor.
Nem a urgência dos versos de Florbela.
Procurei o amor, que me mentiu.
Pedi à Vida mais do que ela dava;
Eterna sonhadora edificava
Meu castelo de luz que me caiu!
Queria mesmo ter a alma transbordando de qualquer amor, para que nessas linhas tivesse o ingrediente que falta para lindas declarações e grandes gestos amorosos. Entretanto, não mentirei, a ambiguidade da vida me atingiu. As flechas do cupido não me alcançam nesse hiato de amor e solidão que me encontro. Tal qual uma ex amante inveterada ou uma love junkie, me equivoco nas lembranças. E nas fantasias das noites vazias faço versos mal escritos, sobre coração, mente e corpo satisfeitos. Não confunda isso com o ideal, o sublime e puro Amor. É sobre amor com a minúsculo que escrevo, o humano, visceral, o que conheci. Um amor que pode ser ambíguo e solitário, tão lindo e pleno, quanto controverso, triste e amoral. Reconheço-me na paixão, no furor, nas suas memórias, nos sorrisos e lágrimas. Há beleza na alegria, tanto quanto há na tristeza que o amor pode causar.
Ironicamente, o que sempre busquei era o tal Amor com A maiúsculo e ainda o busco, mas vejo que até agora só esbarrei com rimas pobres de um soneto gasto. Não fui uma escritora corajosa, não ousei em versos livres e soltos ou haicais. Na próxima me lembrarei de ser certeira como Leminski:
amar é um elo
entre o azul
e o amarelo
Mas De repente, não mais que de repente, quem sabe sou como Vinicius? Que acreditava na infinitude e nas variadas formas de amar. E terei na minha antologia poética, novos versos de amor (que tive). Que não foram imortais, posto que eram chamas, mas que foram infinitos enquanto duraram.
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