Um dia me falaram que eu era mais que suficiente, e acreditei. Subi num pedestal, quanto mais atenção recebia, mais alto ficava. Sabem como é o ditado: quanto maior a altura, pior é a queda.

A adulação começou aos poucos, a atenção foi como um bálsamo no meu ego tão ferido. Alguém me via, alguém que eu admirava, a receita foi infalível. A ousadia foi crescendo, e a sensação de ser admirada, desejada e valorizada se tornou tão inebriante que turvou a razão. Eu sucumbi.

O que era banal, se tornou essencial. O que era impossível, se tornou um vício. O que era um flerte, se tornou paixão e a paixão colocou as vestes do amor. Troquei a couraça que usei por anos pela veste e fiquei nua, a mercê. Me entreguei justamente pro lobo, e nessa hora quando a presa estava pronta para o abate, me vi abandonada.

A abstinência de uma viciada, não era suprida por nada, nem ninguém. A necessidade de sentir a potência do meu Eu enquanto no pedestal, se tornou o meu vício. O vício de ser vista, admirada, desejada, me sentir a mulher que eu sempre acreditei ser, porém nunca me dei o aval. Só sentia o vazio em forma de saudade, dor, raiva, angústia, negação, rejeição, e tristeza. 

Nenhum vício é de todo mau, tem partes muito boas inclusive, ou não viraria um vício. Como o fumo, por mais que pare, você vai sempre lembrar do prazer de um cigarrinho. A saudade é igual, ainda que ocasionalmente. Não sei exatamente do que sinto saudade, ela é tão confusa quanto essa história, um misto de dor e prazer. Após analisar, em terapia inclusive (bendita seja a minha terapeuta), o que mais me fez falta era me ver sob sua perspectiva. Foi graças a esse olhar que vi uma Daniela possível, a Mulher que eu queria ser, plena, confiante, linda e capaz. Nunca me valorizei tanto quanto nesses dias. Não era só um olhar, foi o olhar.

Quem se achava esperta caiu não uma, mas muitas vezes, na fala mansa e entorpecente. Foram muitas etapas de luto, novos tombos, mais luto, e um dia vi que esse olhar não valia o preço que me custava, tirei forças do cóccix e me levantei. Não vou jurar que estou curada, não ouso, assim como o cigarro tenho ainda minhas fraquezas, cada dia mais esparsas e em ocasiões pontuais, todavia me preservo, não voltei a fumar e nem pretendo.

Ficaram algumas lições desse sonho cor de rosa às avessas. Uma delas é que, agora de cima do pedestal do amor-próprio e enxergando por essa perspectiva, algumas vontades pelo nosso próprio bem não devem ser saciadas. A outra é que não devemos arranjar desculpas pras cagadas alheias e nem tentar ver só a parte boa das pessoas, isso não é justo com nenhuma das partes. Não adianta também manter ninguém na sua vida por subterfúgios. Amizade, afeto, consideração, assim como o respeito, não se cobram, se tem ou não. E por fim, se não te derem nada para ficar é melhor pegar o que restou do orgulho e correr.

Assim o fiz, mancando, mas fiz rs. Run, Daniela run.

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