Hoje, dia 29 de outubro é o Dia nacional do livro no Brasil, por conta da fundação da Biblioteca Nacional em 1810 no Rio de Janeiro. Desde que me recordo, os livros fizeram parte da minha trajetória como companheiros fiéis. Dou graças que tive exemplos e incentivadores na minha família. Hábito arraigado e que tento passar adiante com meus filhos.
Lembro com carinho de alguns livros infantis, como os da Maria Clara Machado. Na pré-adolescência gostava da coleção “Para gostar de ler” e “Pollyanna”, este que me marcou a lição de sempre ver o lado bom das situações, como já escrevi em alguns textos, a minha Pollyanna nunca me larga. Desde então perdi as contas e os títulos, não lembro de quantos li e muito menos das histórias de muitos desses, às vezes leio com uma voracidade ao ponto não memorizar por muito tempo, mea culpa.
Me perco em livrarias, ganho horas (ler nunca é um tempo perdido) e fico me controlando pra não comprar novos, a lista dos não lidos sempre é grande. Bibliotecas? Já não vou, infelizmente. Na faculdade Mackenzie, onde estudei, tinha o hábito nos intervalos de passear entre as prateleiras dos livros antigos no prédio da biblioteca. Folheava-os como que tentando absorver algo. O local em si cheira a cultura, era como se adentrasse num outro mundo, uma das melhores memórias que tenho desse período. Um dos detalhes que mais apreciava, além da arquitetura do lugar, era o cheiro de livro antigo, me julguem. Acho que por isso ainda vou a sebos, memória olfativa.
Me perdoem os e-books, sei que já os utilizei, mas livro tem que ter cheiro, textura e design. Adoro desde nova o cheiro do papel velho, como quando mexia nos livros na casa do meu avô, a saga sobre a família Wilder no meio-oeste americano da Laura Ingalls Wilder eram os meus prediletos, já tentei fazer meu filho ler estes que herdei, porém justamente é do cheiro que ele reclama, ironias da vida.
Nunca fui muito de livros técnicos ou autoajuda, depois de um tempo dão sono. Crônicas e poesias me encantam, concentrar sentimentos e pensamentos profundos considero uma arte pra poucos. Porém, gosto mesmo de um romance envolvente, daqueles que prendem a atenção e que te fazem carregá-lo nos lugares mais inusitados só para ler um trecho numa brecha de tempo. Já fui aquela estranha da academia que estava lendo um livro na bicicleta ergométrica. Sempre exercitei mais o cérebro que o corpo.
Não tenho um livro predileto, “Orgulho e preconceito” é minha resposta automática, além de ser uma romântica incorrigível, gosto do tom crítico de Jane Austen sobre a sociedade vigente, uma ironia refinada que ainda se aplica nos tempos atuais. O último que me apaixonei foi “Aimó, uma viagem pelo mundo dos orixás” do Reginaldo Prandi, delicado e envolvente que conta a jornada de uma menina que se vê sozinha no mundo dos mortos, onde é amparada pelos Orixás vivenciando alguns de seus itans. Minha meta atual são os clássicos, nacionais e internacionais, me sinto analfabeta quando penso neles, o que li, já esqueci. “No dia que a universidade me deu um diploma e uma ciência que estava longe de carregar no cérebro.”
Leio muito menos que gostaria, a maternidade é uma das justificativas, tempo e cansaço são os vilões desse enredo, demoro para acabar, tenho que voltar e reler alguns capítulos, pois esqueci ou li meio dormindo. As redes sociais também não colaboram, são concorrentes viciantes, preciso sempre me policiar.
Quem me conhece sabe desse amor antigo, os livros são os melhores amigos, companheiros, consoladores e parceiros. Boas histórias já me fizeram: curar fossas homéricas, rir, chorar, colocar sapatos alheios, entrar em mentes diversas e o que mais gosto, viajar para lugares distantes, outras épocas e culturas. Saio do meu pequeno mundinho e me aventuro por aí.
Muitos amigos se perderam no caminho até aqui, dei, emprestei ou devolvi. Tampouco estou só, mantive alguns queridinhos ou os não lidos. Nunca venço a pilha dos que pacientemente me esperam, e o melhor que sempre tem um novo chegando, esta guerra pretendo perder ad aeternum. Ariano Suassuna afirmou “quem gosta de ler não morre só”, e sigo com a crença que com um bom livro nunca estou sozinha.
Boa leitura!