Invisíveis, mas não livres

Levando meu filho no médico, passei na baixada do glicério. No farol uma mãe e duas crianças pequenas pedindo dinheiro, até ai nada de novo. Ela não tinha cara de drogada e as crianças estavam bem agasalhadas. Me vi naquela mulher. O que será que aconteceu pra chegar a esse ponto? Quais foram suas escolhas erradas?

Na outra semana passei no centro e me assustei com a quantidade de moradores de rua. Faziam parte da paisagem, eles e seus cobertores cinzas. Uns sujos e drogados, outros simplesmente jogados ali como se estivessem nos sofás de suas salas.

Em que parte da vida eles se tornaram invisíveis?

Seu Clóvis!

Conheci seu Clóvis dois anos atrás, um morador de rua da região do Brooklin. Deficiente físico, não tinha uma perna, acidente de carro. Antes trabalhava com desenhos ou algo assim. Depois do acidente se enveredou na bebida, depois nas drogas, viu sua companheira de rua ter um ataque cardíaco quando consumiam crack. Depois disso resolveu largar tudo. Estava limpo fazia uns anos, e como ele dizia, só tomava uma cervejinha de vez em quando.

Mas esse homen era um caso a parte, sempre limpo e arrumado. A gentileza em pessoa, sempre com seu bom dia sincero e sua preocupação para comigo. Dava pra ver os dias que ele queria conversar, vinha puxar papo com alguma notícia da semana. É a pena que nunca mais o vi. Soube que estava bem um tempo atrás, espero que continue assim. Em dias frios e chuvosos as vezes me lembro dele, mas ele falava que estava melhor que muitos, que eu não precisava me preocupar. Uma vez me falou que nem ele era livre. Tinha também suas obrigações, de comer por exemplo. Convivi com ele um ano, um tapa na cara diário, um aprendizado constante. Que Deus o guarde.